Fernando Blower, Presidente da entidade, acredita que setor teve aprendizados durante a pandemia
O setor de bares e restaurantes no Rio de Janeiro já vinha em crise desde 2017, no pós-Olimpíadas de 2016. Mas com a pandemia de Covid-19 o baque foi avassalador. De acordo com dados do Sindicato Patronal de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SINDRIO), de 25% a 30% fecharam em definitivo e cerca de 20 mil empregos foram perdidos.
Na segunda parte do podcast BóraVoar dedicado ao setor de food service, o palestrante de vendas mais contratado do Brasil, Diego Maia, conversou com o Presidente do SINDRIO, Fernando Blower, sobre as dificuldades dos restabelecimentos e perspectivas para o futuro.
Blower não traz apenas notícias ruins. Segundo ele, o monitoramento da entidade mostra que o faturamento do setor tem crescido na mesma escala em que avança a vacinação contra a Covid-19. Confira mais informações na entrevista.
Diego Maia - O setor de food service, não apenas no Rio de Janeiro, a cidade em que você milita Fernando, foi duramente impactado pela crise do Covid-19. Qual é o atual panorama? Que análise você faz sobre o atual momento do food service?
Fernando Blower - O Rio de Janeiro teve um impacto muito grande no setor de bares e restaurantes por conta da pandemia. Na verdade, já vinha de alguns anos difíceis, desde 2017 no pós-Olimpíada, 18, 19, algumas áreas da cidade, em especial o Centro da cidade sofrendo bastante com a diminuição da atividade econômica e também com uma concorrência com a informalidade que estava tomando conta de determinadas áreas da cidade. Veio a pandemia e aí qualquer problema passa a ser pequeno, porque o impacto foi avassalador. Do dia para a noite, poucas semanas, dias talvez, os salões estavam fechados. Para alguns estabelecimentos isso representava 100% da venda, 100% da receita. Para outros, que ainda tinham alguma chance de vender no delivery, conseguiram algum tipo de receita, mas realmente muito aquém do necessário para dar conta da sua sustentabilidade financeira, das suas obrigações até mais básicas como aluguel, folha salarial e daí por diante.
“A gente percebeu muitos restaurantes encontrando maneiras de se reposicionar. Principalmente entrando no online, entrando no digital. Bares que nunca pensaram em fazer delivery começaram a fazer, alguns restaurantes diversificaram, abriram outras marcas.” Fernando Blower
Diego Maia - E como os estabelecimentos se viraram nesse período?
Fernando Blower - O que foi acontecendo ao longo do tempo é que a gente percebeu muitos restaurantes também encontrando maneiras de se reposicionar. Principalmente entrando no online, entrando no digital. Bares que nunca pensaram em fazer delivery começaram a fazer, alguns restaurantes diversificaram, abriram outras marcas, marcas acessórias, dark kitchens. Foram ali ampliando seu leque de opções, de relacionamento com o seu cliente. A gente viu degustações, experiências que começavam no online e iam para o offline e vice-versa. Então foi um momento onde os bares e restaurantes tiveram que repensar. Muitos deles infelizmente ficaram pelo caminho.
Diego Maia - Vocês do SINDRIO têm dados de quantos tiveram que fechar as portas?
Fernando Blower - Os nossos dados apontam que cerca de 25% a 30% das operações fecharam em definitivo. E o impacto nos empregos foi não menos importante. Alguma coisa em torno de 20 mil carteiras assinadas, empregos diretos, só na cidade do Rio de Janeiro, foram perdidos. O que a gente olha também com muita proximidade é como agora essas empresas estão se recuperando. O que a gente vê também é que essas empresas, nesse momento, começaram a olhar para frente e ter um horizonte muito mais positivo. O que mostra isso? Bom, o fim das restrições, mas também o avanço da vacinação que traz para a população de modo geral mais confiança para retomar o convívio em espaços públicos e espaços compartilhados. O que é muito interessante, porque o aumento do faturamento acompanha proporcionalmente o avanço da vacinação. E isso obviamente traz patamares de faturamento cada vez mais próximos da realidade que o setor precisa para de fato retomar sua atividade e retomar a sua pujança.
Diego Maia - Uma ouvinte me mandou um direct la no meu Instagram, Fernando, que me comoveu muito. Era um texto longo, mas que em geral ela dizia assim: “O Diego, meu marido perdeu o restaurante, demitiu os funcionários com todos os direitos, pagou todo mundo certinho, mas quem ficou sem nada foi a gente. Tivemos que vender até objetos pessoais para custear as nossas dívidas”. Essa crise está sendo muito severa, muito além das questões de saúde pública. De saúde mesmo. Está ceifando muitos empregos, está levando muitas empresas. Na sua opinião qual é a solução para a retomada do setor?
Fernando Blower - Olha Diego, infelizmente esse relato que você recebeu dá ouvinte é um relato muito triste, mas muito comum. Muitas pessoas, empresários, comerciantes, perderam muito ao longo da pandemia. Tiveram que fechar seus negócios, abriram mão muitas vezes até de patrimônio pessoal, como foi o caso desse relato para poder arcar com as despesas de fechamento, na rescisão dos funcionários e desmobilização do negócio. E isso é muito triste para todos nós, porque quando um restaurante, um bar se perde, você está perdendo muita coisa. Você está perdendo empregos, em primeiro lugar, vidas que dependem daquilo, mas também um pouco da cultura daquele bairro, daquela cidade, daquele local, daquela vizinhança.
Diego Maia - Eles fazem parte da vida daqueles lugares.
Fernando Blower - Bares e restaurantes são locais onde as pessoas se conhecem, confraternizam, têm boas histórias, brigam, se casam, enfim... você tem vida social e vida afetiva acontecendo ali. Infelizmente muitos desses lugares não vão estar mais com a gente nesse pós-pandemia. Mas o que eu posso falar para esse ouvinte em relação à solução para a retomada é que para quem está investindo, sejam novos empreendedores, sejam aqueles que conseguiram superar a parte mais difícil desse momento que agora já está passando, é que a pandemia deixou alguns aprendizados.
“A gente precisa olhar para o digital, transformação digital é uma expressão que está muito em voga e no nosso setor ganhou uma velocidade que nunca antes teve.” Fernando Blower
Diego Maia - E quais foram os aprendizados?
Fernando Blower - Nesse negócio não existe uma receita de bolo. Claro que vai variar de um para o outro qual é a melhor solução para o caso. Mas no geral ficou muito claro que algumas coisas devem ser entendidas por esse cliente daqui por diante, e principalmente por esse empreendedor daqui por diante. A gente precisa olhar para o digital, transformação digital é uma expressão que está muito em voga e no nosso setor ganhou uma velocidade que nunca antes teve. Você tem hoje várias plataformas e ferramentas e maneiras de relacionamento com o seu cliente que antes você não tinha. E o próprio cliente quebrou barreiras em relação a essas ferramentas e ele está mais acostumado a usar. Não estou falando só de delivery não. O delivery certamente ganhou proporções enormes e tende a se manter, mas o cardápio digital, o próprio papel das mídias digitais se transformou muito. Você tem que entender que o seu negócio, mesmo que ele seja baseado em atendimento de salão e atendimento presencial, ele é um negócio também online. Isso precisa ficar muito claro, porque você precisa disso para não perder competitividade no setor.
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Sobre o Diego Maia
Diego Maia é o palestrante de vendas mais contratado do Brasil. Com 6 livros publicados, atua no mercado de palestras e treinamentos de vendas desde 2003. Apresenta o BóraVoar, programa que está no ar em diversas emissoras de rádio como Antena 1 (103,7 FM Rio de Janeiro) e Mais Brasil News (101,7 FM Brasília). O programa também é publicado diariamente em todos os aplicativos de podcasts.
Diego Maia é CEO do CDPV (Centro de Desenvolvimento do Profissional de Vendas), escola de vendas pioneira no Brasil, especializada em treinamentos de vendas presenciais e online.
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